Artigo
A experiência dos colaboradores em um mundo pós-pandemia.
Douglas Conte
Com a pandemia global de Covid-19, o mundo do trabalho passou por transformações significativas e irreversíveis. À medida que as empresas lutam para se adaptar a um ambiente em constante mudança, a experiência do funcionário tornou-se mais crucial do que nunca. É isso que Scott Davis, cofundador da Prophet, explora no artigo "Designing the Employee Experience for the New World of Work”.
Em resumo, o artigo enfatiza que as empresas precisam adotar uma abordagem mais flexível e investir em tecnologias e treinamentos para redesenhar a experiência dos funcionários. Essas medidas são essenciais para garantir que a comunicação e a colaboração entre equipes continue acontecendo de forma eficaz, mesmo que as jornadas sejam híbridas ou totalmente remotas.
E eu vou ainda mais longe: redesenhar as experiências é a única maneira de garantir que os colaboradores continuem vivendo a cultura organizacional.
Mesmo antes, em ambientes mais estáveis e presenciais, muitas empresas já tinham dificuldade em manter o que chamamos de ONE VOICE, com colaboradores engajados e comprometidos com o jeito de ser e fazer da organização. Agora, com as novas jornadas, fica ainda mais complexo. Pense comigo: mesmo que o colaborador viva uma jornada híbrida, quando estiver em casa não estará, necessariamente, em contato com os símbolos, ritos, valores e processos que formam a cultura da empresa.
Desde o começo da pandemia, nos deparamos com esse desafio: como manter a cultura em ambientes físicos que, nem ao menos, conhecemos? Em uma mesma empresa, temos pessoas em casa e outras presenciais. Das que estão em casa, algumas trabalham do sofá da sala, outra tem um ambiente e uma cadeira mais adequados. Enquanto umas estão no silêncio e no ar condicionado com bons computadores, outras estão em meio aos latidos dos cachorros ou obras do vizinho, mal acomodados e com máquinas ultrapassadas. E isso é só um exemplo, as variáveis são muitas. O problema é que uma boa parte do comportamento e das percepções dos colaboradores serão afetados diariamente por esses elementos externos.
A verdade é que, passado um tempo, podemos afirmar: trabalho híbrido veio para ficar. E mesmo que ainda estejamos aprendendo com essas experiências mais flexíveis, já sabemos que precisamos agir de forma diferente para manter a produtividade e a felicidade dos funcionários. A primeira questão é como manter a colaboração e as relações interpessoais, mesmo quando as pessoas estão fisicamente distantes. Outro ponto crucial é como minimizar a pressão das lideranças no gerenciamento de equipes totalmente remotas. Por fim, e não menos importante, como manter vivos os símbolos, valores, comportamentos, propósito, narrativa e tudo o que compreende uma cultura organizacional forte em ambientes diferentes.
Como reforça o artigo do Guru de Branding Scott Davis: a resposta está em redesenhar a experiência do colaborador.
Mesmo que haja uma preferência evidente pelo trabalho remoto, vários colaboradores buscam reconstruir um senso de conexão com seus colegas de trabalho e comunidades. Antes, costumávamos ter o tradicional bebedouro para um bate-papo e para ficar por dentro das últimas notícias. Muitas vezes, esses momentos menos formais - como o happy hour - era onde construímos confiança e relacionamentos. Não podemos esquecer que os seres humanos são fundamentalmente sociais e as pessoas almejam fazer parte de grupos. Então, como (re)criar essas condições espontâneas e momentos orgânicos em ambientes cada vez mais digitais?
Claro, não existe fórmula pronta. Cada empresa tem e terá os seus próprios desafios na reformulação da jornada, mapeando todos os fatores organizacionais que afetam a experiência que as pessoas têm no dia a dia. No entanto, é importante que todos mantenham em mente a manutenção do propósito, da essência e dos valores que os trouxeram até aqui, medindo possíveis ruídos no engajamento à cultura, orgulho e senso de pertencimento.
O Dropbox, por exemplo, mesmo sendo uma empresa de tecnologia com 100% dos colaboradores (mais de 3000) trabalhando remotamente, entendeu que precisava de momentos presenciais colaborativos periodicamente. Para que isso acontecesse da melhor forma, a empresa redesenhou suas instalações, removendo mesas individuais e criando ambientes muito inovadores. Outras empresas, criaram “redes sociais” virtuais para fortalecer a cultura da conexão entre funcionários até nas horas de lazer.
A verdade é que as empresas precisarão facilitar todos os tipos de relacionamentos, desde funções formais de trabalho e responsabilidades até amizades e conversas paralelas. Entendendo que todas as experiências e relacionamentos fazem parte da jornada. Um exemplo clássico é a importância do acolhimento na integração, que pode definir como e por quanto tempo os novos funcionários estarão engajados.
Aqui na Qore.me entendemos que todo esse processo passa, invariavelmente, por conhecer, alinhar e fortalecer a cultura. Não adianta sabermos aonde queremos chegar, se não soubermos onde estamos agora. Identificar a cultura e diagnosticar o ambiente de trabalho, criando índices mensuráveis é uma boa forma de começar esse movimento de transformação.
No fim das contas, a pior coisa que pode ser feita é não fazer nada. Vinte anos atrás, os profissionais de marketing descobriram que a era da experiência do cliente havia chegado. Agora é a vez da experiência do colaborador. As empresas não podem se dar ao luxo de deixar acontecer. Precisamos ser mais intencionais nas interações – como recrutamos, contratamos e como incentivamos a conexão. Assim, aproveitamos esses tempos turbulentos para reimaginar a experiência que os funcionários têm com a nossa marca interna.
No artigo, Scott Davis propõem quatro diretrizes:
- A cada nova mudança de experiência, pergunte: isso é desejável? Viável? Exequível?
- Adapte a estratégia e o design da experiência para simbolizar claramente a cultura da empresa e os elementos da proposta de valor do funcionário, alinhando-os com o objetivo e a estratégia corporativos.
- Concentre-se nos momentos que importam. Os funcionários fazem muitas jornadas. O que torna uma empresa boa para um recém contratado pode ser muito diferente do que interessa a um líder experiente. Entenda as diferentes personas e arquétipos dos funcionários.
- Faça da força de trabalho equilibrada, saudável e diversificada o novo objetivo final, usando flexibilidade e conexão para impulsionar o bem-estar e crescer mais forte a cada dia.