Artigo

Um olhar sobre o layoff

Carlos Palhares André, cofounder Qore.me e especialista em cultura e endomarketing

Quanto mais acelerada for a escalabilidade de uma empresa, maior será a probabilidade de ocorre um grande layoff.

Todos os meses, temos visto mais e mais demissões, principalmente em empresas de tecnologia. Essa semana, a Amazon dispensou mais 9 mil funcionários, somando aos 18 mil que já tinham sido desligados.

 

Há quem diga que escalabilidade é a possibilidade que uma empresa tem em crescer, agregar valor ao seu negócio e atender às demandas de seus clientes, sem aumentar expressivamente os custos. Ou ainda, é a capacidade de um sistema, processo ou organização de lidar com um aumento ou diminuição na demanda ou tamanho sem comprometer o desempenho ou a qualidade do serviço prestado. Quero chamar a sua atenção para essa parte: “lidar com a diminuição na demanda ou tamanho.”

 

Embora a escalabilidade esteja hoje muito mais presente no universo tech, ela há tempos já faz parte do mundo industrial. Máquinas melhores, processos fabris mais inteligentes e otimizados, produzindo mais em menor tempo, com a menor quantidade de recursos possível. O famoso “ganhar na escala”. No entanto, quando uma fábrica fica ociosa, as equipes de produção, vendas, marketing são chamadas para encontrarem uma solução. Isso porque leva-se meses ou até anos para construir ou ampliar uma fábrica, e não é fácil se desfazer do maquinário adquirido e da estrutura construída. Dessa forma, uma vez que a escalabilidade demora mais tempo para ser alcançada, ela também tende a levar mais tempo para ser reduzida, resultando em menos demissões e menor velocidade.

 

Por um tempo, pensei que parte da falha estivesse no reflexo que a injeção de capital gera nas empresas. O RH muitas vezes recebe, da noite para o dia, “carta branca” e grandes recursos para investir no que for preciso e desejado, visando atrair talentos, construir um local admirado e investir  nas pessoas... Tudo para suportar o crescimento acelerado que a escalabilidade gera.


Não há como negar, as techs impulsionaram mudanças em outras empresas e áreas de negócios, com benefícios e maneiras de gerir que décadas atrás sequer pensávamos.No entanto, elas também são empresas e sofrem impactos com o ambiente de negócios em que estão inseridas. Talvez muitas práticas de gestão de pessoas tenham sido implementadas de maneira exagerada e sem lastro, caso o mercado ficasse mais recessivo. Este é o risco de quando se tem recursos e a exigência da velocidade. Talvez estejamos vivendo um momento em que até esses investimentos em práticas de gestão serão repensados para, ao mesmo tempo, serem estratégicos para o negócio e terem foco genuíno nas pessoas.

 


Não me parece que ofertar o máximo que a empresa pode, sem pensar nos impactos futuros no desenvolvimento profissional e pessoal de cada um, seja a resposta.Isso atende à necessidade de negócio imediata e de crescimento acelerado, mas será que realmente faz bem às pessoas e às organizações?

Quantas empresas estão preocupadas com a saúde mental, mas mantêm a mesma a pressão por metas e produtividade? A administração de um negócio não é apenas exata e racional, também envolve o emocional. A gestão de pessoas precisa estar junto aos boards, sendo parte dessa cultura de transformação,  ajudando a construir novos modelos de empresas e não sendo apenas a solução para “amenizar” o impacto negativo de muitos negócios.

 

Lembro-me da frase de Mário Sérgio Cortella: “Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero”.

 

Não acredito que as ondas de layoffs deixarão de existir. A dinâmica dos negócios muda diariamente e precisa ser equilibrada. Empresas precisam gerar resultados, mas a que preço e a que custo? Na minha humilde opinião, isso exige um repensar de todos os agentes dessa relação.

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