Artigo

Já ouviu falar de clima falso positivo?

Carlos Palhares - cofounder Qore.me e estrategista em Cultura e Endomarketing

"Todas as semanas eu recebo uma pergunta para responder de como estou me sentindo. E o sentimento negativo não mudou, porque o que apontei na primeira pesquisa não foi resolvido. Porém, faz parte da meta da área não só responder esses pulses, mas também ter uma nota boa. Sabe o que faço? Sempre marco que está tudo bem.”

Essa frase, que deixei anônima por motivos óbvios, ouvi de uma profissional em sala de aula na pós-graduação e ilustra de maneira contundente um pouco da realidade de algumas empresas sobre suas notas de clima organizacional. Dados que compõem muitas vezes uma bússola viciada.

É importante lembrar que o clima organizacional reflete o"momento" dentro da empresa, um retrato instantâneo da percepção e satisfação dos colaboradores. É algo que pode flutuar frequentemente, dependendo de diversos fatores, como mudanças na liderança, projetos em andamento, ou até mesmo eventos externos. Um clima positivo, por mais desejável que seja, nunca oferece garantia de permanência. No dia seguinte, algo fora do controle da empresa pode ocorrer, impactando negativamente algum funcionário ou grupo, e, de repente, o clima já muda. Da mesma forma, decisões internas, como a necessidade de implementar novas normas ou reestruturar a empresa, também podem alterar rapidamente esse clima.

Sabendo disso, empresas aplicam cada vez mais a pesquisa de pulso ou pulse, com a intenção de monitorar esse nível de satisfação dos colaboradores. Uma espécie de termômetro. Poucas ou até mesmo apenas uma pergunta é feita para um grupo de colaboradores com maior frequência. Algumas fazem semanalmente.

Diferente do clima, a cultura é mais permanente do que momentânea. E isso fica bem evidente quando entendemos que cultura não muda da noite para o dia.Já o clima, como exposto acima, pode se alterar com um simples fato novo de grande impacto ou até mesmo uma resposta ou comportamento inadequado de um líder. O mais instigante é que já vi muito clima deixar de ser momentâneo e se tornar permanente por um período. No entanto, 99% das vezes (para dar margem a exceções) eram climas negativos que se perpetuavam por melhorias esperadas não feitas e/ou percebidas.

Por isso, com base na minha vivência no mercado (são mais de 25 anos atuando direta ou indiretamente nessa área nas empresas espalhadas pelo Brasil e mais de 15 em sala de aula na pós-graduação), quero deixar aqui 3 provocações:

#1. 
O que estamos fazendo para que o clima na minha empresa não seja um falso positivo?


#2.
Será que não estamos banalizando o instrumento de pesquisas internas? Pesquisando tudo sempre e, quando precisamos pesquisar algo mais profundo ou diferente, pegamos um colaborador cansado e até chateado por tanta pesquisa e pouca percepção de melhoria?


#3. 
Se clima é momento, podemos nos basear somente nele para criar uma cultura intencional?


Ter dados equivocados, onde os colaboradores respondem que "está tudo bem" por pressão ou por falta de confiança nas ações futuras, pode levar a uma falsa sensação de que estamos no caminho certo. Os dados confortam a alta direção, mas não espelham a realidade que tanto se busca: empresas centradas em pessoas.

Evoluir é, antes de tudo, abrir a mente para novos olhares sobre o mesmo tema. A transformação começa quando a empresa reconhece que o clima é passageiro, mas tem o potencial de deixar marcas permanentes. E essas marcas, quando não cuidadas, podem se tornar cicatrizes na cultura organizacional.

Vamos olhar para isso ou seguiremos nos iludindo?
Não existe evolução, se não estivermos dispostos a transformar a maneira como agimos, buscando novas formas de fazer.
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